O Grupo de Conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) divulgou nesta quinta a seção Visão Geral da Carta da
Conjuntura nº 35. A análise indica preocupação com a situação fiscal do Brasil,
já que os gastos obrigatórios continuam crescendo a uma taxa elevada e a
arrecadação vem decepcionando. Por sua vez, a inflação, a economia
internacional e as contas externas seguem em trajetórias benignas que ajudam a
melhorar o ambiente macroeconômico brasileiro, mesmo em meio à instabilidade
política.
A questão fiscal, aliada à incerteza quanto à agilidade na
aprovação das reformas tributária e previdenciária, levou o Grupo de Conjuntura
a projetar variações mais modestas para o investimento, que ainda deve
permanecer no terreno negativo neste ano e apresentaria um crescimento mais
moderado em 2018. A expectativa do grupo é de que a atividade econômica
mantenha o ritmo de retomada gradual, levando o PIB a crescer 0,3% em 2017 e de
forma um pouco mais rápida no ano que vem (2,3%).
No que se refere à trajetória da inflação, espera-se uma
taxa de 3,5% em 2017 e de 4,3% em 2018. A leve aceleração inflacionária em 2018
é compatível com a redução esperada da taxa Selic para 8,5% a.a. ao final deste
ano - e manutenção desse patamar no ano que vem -, a recuperação da atividade
econômica e a taxa de câmbio mais desvalorizada, pressionada pelo cenário de
maior incerteza.
Os indicadores mensais mais recentes - como os dados de
confiança de junho da Fundação Getúlio Vargas (FGV), analisados na seção de
Atividade Econômica da Carta de Conjuntura também divulgada nesta quinta,
corroboram um cenário de retomada mais paulatina do crescimento. A recuperação
mais forte do consumo tem esbarrado numa dinâmica de ajuste lento do mercado de
trabalho e na recomposição ainda incipiente do crédito.
A Visão Geral da Carta de Conjuntura explica que a própria
redução da inflação tem contribuído para aumentar o valor real dos gastos
obrigatórios, como os benefícios previdenciários, que foram corrigidos por uma
taxa inflacionária elevada no início do ano, e os salários do funcionalismo,
negociados em anos anteriores sob a influência de expectativas de taxas ainda
elevadas.
Nos primeiros quatro meses do ano, os pagamentos de
benefícios previdenciários e assistenciais e de salários do funcionalismo
(ativos e inativos) cresceram, em termos reais, 5,3% e 7,3%, respectivamente.
Essa pressão dos gastos obrigatórios torna-se ainda mais dramática quando se
considera que o total das despesas primárias federais caiu 4,3% em termos
reais, no mesmo período. Ou seja, a margem de redução dos demais gastos vem se
estreitando rapidamente, colocando em risco a meta de resultado primário no
curto prazo.
O cenário analisado nesta edição da Carta de Conjuntura
supõe que as turbulências políticas afetam negativamente o ritmo de retomada
econômica, mas não impedem a continuidade desse processo. Da mesma forma, na
ausência de um maior grau de contaminação do ambiente econômico pela conjuntura
política, não há sinais de descontrole inflacionário.
Fonte: Monitor Mercantil
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